Como vocês já devem saber, há dois tipos de motivação, a intrínseca e a extrínseca. A intrínseca está na pessoa, é a automotivação e a extrínseca está fora dela, pode ser, por exemplo, um incentivo ou uma recompensa externa.
Penso que a motivação que vem de dentro do aluno para que ele siga adiante em seus estudos é mais duradoura e eficaz. Fatores externos como o estilo de um professor, uma promoção na empresa ou uma aula divertida são aspectos que certamente encorajam o aluno, mas não são fatores que, por si só, determinam sua dedicação aos estudos em direção às suas metas.
Em um estudo feito por Shoaib e Dörnyei (2004), em que foram mapeados aspectos importantes da motivação dos alunos ao longo de seus estudos de um idioma estrangeiro, os autores chegaram a sete dimensões dos fatores motivacionais que influenciam o processo de aprendizagem de uma língua.
A seguir, apresento brevemente essas dimensões; comento-as, focando agora o aprendizado de inglês; e em seguida provoco vocês, leitores, a uma reflexão:
1. Motivação afetivo-integrativa: atitudes em relação à língua meta, atitudes em relação ao aprendizado da língua, atitudes em relação à comunidade que fala a língua meta.
Motiva-se o aluno que sente que está progredindo, que consegue por meio de um balanço periódico perceber seus avanços. Motiva-se também o aluno que quebra barreiras e chega a estágios que não acreditava poder alcançar. Já as pessoas que têm resistências à cultura e estilo de vida daqueles que falam o inglês como língua materna podem, de alguma forma, desgostar de estudar ou aprender inglês e por isso, apresentar menor progresso.
Você reflete sobre seus progressos? Valoriza o que já consegue fazer? Cria novas metas com um limite de tempo para alcançá-las? Gosta do idioma que aprende? Consegue se divertir enquanto aprende?
2. Motivação Instrumental: emprego atual, emprego desejado, colegas, formação continuada, Inglês como língua franca, Inglês como parte da imagem de uma pessoa moderna.
A utilização imediata do idioma que se aprende é um fator motivacional de grande valia. Perceber o valor de se saber inglês como parte de um crescimento profissional e pessoal continuados e como sinal de que se está em sintonia com as tendências atuais também ajudam que a pessoa persista.
Você consegue ver a ligação daquilo que aprende com as tarefas que realiza em seu trabalho? Tenta simular como seria alguma situação profissional ou de estudo, se a vivesse em inglês? Está se preparando para isso? Você acha importante para a sua vida profissional e/ou pessoal estudar inglês?
3. Motivação relacionada ao conceito de si: autoconfiança, satisfação, aceitação de limites, fatores que debilitam, autodeterminação.
Uma das inteligências mais importantes quando se aprende algo é a inteligência intrapessoal, aquela que ajuda o aluno a lidar com seus limites e frustrações de forma a superá-los e alcançar seus objetivos com seus próprios recursos. Conhecer-se e abrir caminhos diferentes para chegar aos seus objetivos, e poder sentir-se vitorioso e confiante é ter inteligência intrapessoal.
Você conhece os desafios que tem? Sabe como usar seus pontos fortes para superar seus pontos fracos? Treina sua postura e tom de voz para falar inglês com confiança? Mesmo enfrentando alguns desafios, você mantem seus objetivos em mente?
4. Motivação orientada a metas: orientação para dominar a língua, orientação para um bom desempenho (demonstrar habilidade, ter boas notas e superar outros alunos), ter metas específicas.
Ter metas claras e os caminhos por onde trilhar para alcançá-las. As metas precisam ser específicas e estarem atreladas a um limite de tempo. Não adianta dizer apenas: “Quero aprender inglês.” Você precisa de algo como, por exemplo: “Em dois meses, quero atender os telefonemas dos clientes estrangeiros em inglês e conseguir encaminhar as ligações ou anotar os recados. Para isso, além de minhas aulas, vou estudar 15 minutos por dia, ouvir o CD das aulas 3 vezes por semana e assistir a um filme em inglês sem legendas uma vez por mês.”
Você tem metas claras? Você aprende inglês PARA QUÊ?
5. Motivação relacionada ao contexto educacional: professor, colegas de sala, currículo, método, Inglês como disciplina obrigatória, número de alunos em classe.
Pode ser que as condições de seu contexto educacional não sejam aquelas que você desejaria e nem mesmo as ideais, mas essa é a chance que você tem hoje. Em um mundo regido pelo grande fluxo de informações, cujo acesso mais abrangente se dá pelo conhecimento do inglês, minha pergunta é:
Mesmo que não sejam as condições ideais, você vai deixar essa chance passar? O que você pode fazer para transformar essa oportunidade em resultado para você?
6. Motivação relacionada a outros fatores significantes: pais, família, amigos, companheiros.
Eu comecei a aprender inglês porque meu pai queria que tivéssemos a chance que ele não teve. Mal sabia eu onde isso me levaria. Ele me encorajou e hoje, ensinar inglês é a minha profissão.
Se você conhece ou trabalha com falantes de inglês, esta pode ser a sua motivação para aprender: comunicar-se. Depois que você começa a aprender, você se torna mais atento ao inglês falado a sua volta e com certeza, encontra algumas oportunidades de interação. Busque estas chances, arrisque-se, pratique e aprenda!
7. Motivação relacionada ao ambiente anfitrião: contato com o inglês, inabilidade de se integrar, tempo de estada.
Essa dimensão da motivação é exclusiva para casos de aprendizagem de Inglês como segunda língua, como acontece, por exemplo, com pessoas que vão morar em um país de língua inglesa por um período e vivem uma ‘imersão’. Precisam fazer coisas e ir a lugares, e para isso precisam comunicar-se no idioma local.
Se você fizer um intercâmbio ou uma viagem a um país de língua inglesa, ou até mesmo um curso de imersão, perceberá que sua motivação é socializar, integrar-se com a comunidade e para isso, terá de falar o idioma local. Não há outro jeito!
Bons estudos!
Para saber mais:
SHOAIB, A.; DÖRNYEI, Z. Affect in lifelong learning: Exploring L2 motivation as a dynamic process. In: BENSON, P.; NUNAN, D. (Eds). Learners’ Stories. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. p. 22-41